sexta-feira, 15 de junho de 2012

Projeto valoriza cultura afro-brasileira em escola de Mato Grosso


   
Três professoras de Mato Grosso desenvolveram e participaram de um projeto de intervenção na Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini, no município de Diamantino. O projeto e o artigo elaborados foram requisitos de conclusão do curso de aperfeiçoamento que Célia Bárbara do Couto Silva, Cleir Benedita Costa Santos, e Márcia Aparecida Timidati Raimundo concluíram no Núcleo de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso (Nead/ UAB/UFMT), sobre o tema Relações Raciais e Educação na Sociedade Brasileira.
Professora de língua portuguesa e 23 anos de magistério, Márcia Raimundo tem graduação em pedagogia e letras anglo-portuguesas e especialização em psicopedagogia. Graduada em história, a professora Cleir Santos leciona história há 14 anos. Enquanto Célia do Couto Silva, já aposentada, é formada em pedagogia.

O projeto foi executado de agosto a novembro de 2010, tendo como objeto de estudo o preconceito étnico-racial no âmbito escolar. As idealizadoras foram as professoras Jacilda Siqueira Pinho, de letras e Ivolina Razza, de história.
A finalidade foi dinamizar a construção do espaço de inserção da diversidade cultural, de modo a permitir o reconhecimento, pelos alunos, de sua própria identidade sociocultural, bem como o respeito e a valorização do pluralismo existente entre eles. Além disso, proporcionar uma convivência respeitosa entre os diversos grupos culturais, a aceitação da diversidade e o resgate da autoestima e autonomia.
A primeira tarefa foi a realização de uma reunião com gestores e professores da Escola Irmã Lucinda, para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas. Na ocasião, ficou determinado que essa temática seria trabalhada pelos professores de todas as áreas do conhecimento.

O projeto implementou medidas no sentido de levar ao conhecimento do aluno a riqueza da cultura afro-brasileira existente na comunidade de Diamantino. De acordo com pesquisa feita nos arquivos da Casa Memorial dos Viajantes, a maior parte da população diamantinense, no período de 1750 a 1860, era formada por negros trazidos da África, de diversas nações e etnias. Assim, os alunos realizaram visitas ao sítio Caramba, ao Cajuru, e ao Asilo São Roque, locais de antigos quilombos.
Com o objetivo de valorizar a arte, beleza, moda e cultura africanas, foram feitas pesquisas sobre penteados, oficinas de cabelos e bijuterias, além de desfile de modas e confecção de jornal. Os estudantes puderam assistir a apresentação da Central Única da Favela (CUF), da peça de teatro Cabelo Pixaim e a palestra da jornalista Neuza Baptista Pinto, autora do livro Cabelo Ruim? A história de três meninas aprendendo a se aceitar. Conheceram, ainda, os instrumentos, as músicas e os principais movimentos da capoeira, bastante utilizada pelos antigos escravos como meio de defesa.
Os alunos tiveram a oportunidade de confeccionar peças artesanais em barro (panelas, caçarolas e fogão de lenha); madeira (monjolo, viola de cocho, colher de pau, gamelas); e folha de buriti (apá, utensílio para selecionar grãos). Os índios Pareci, da Aldeia Formoso, de Tangará da Serra, também foram convidados a participar do evento, quando apresentaram cantos e danças indígenas. (Fátima Schenini)

Fonte: Portal do Professor

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.html?idEdicao=83&idCategoria=2



Leia o Artigo na integra:


Valorizando a diversidade

                                                            Célia Bárbara do Couto Silva[1][1]
                                                           Márcia Aparecida Timidati Raimundo[1][2]
                                                           Cleir Benedita Costa Santos[1][3]

Resumo: O presente artigo é resultado do trabalho de intervenção executado entre os meses de agosto a novembro de 2010, na Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini, no município de Diamantino-MT, como requisito de conclusão do curso de “Aperfeiçoamento em Relações Raciais e Educação na Sociedade Brasileira”. Seu objeto de estudo foi o preconceito etnicorracial no âmbito escolar, com a finalidade de dinamizar a construção do espaço de inserção da diversidade cultural, nas diferentes áreas do conhecimento, para promoção da identificação do grupo de pertencimento do aluno, permitindo que este reconheça sua identidade sócio-cultural perante os demais grupos, respeitando e valorizando o pluralismo existente entre eles. Para tanto, valemo-nos de pesquisas; entrevistas com participantes do movimento negro, com remanescente de Quilombo, com participante GRUCON-MT; confecção de painéis; oficina de penteados e bijuterias; visitas ao asilo São Roque, à Aldeia Formoso (Tangará da Serra),  ao Sítio Caramba (Antigo Quilombo); entre outras atividades.Com base nos resultados das ações realizadas já foi possível perceber algumas mudanças de comportamentos e posturas de alunos e professores no cotidiano da escola em relação ao reconhecimento e valorização do negro, e também a de respeito à diversidade cultural.
Palavras-chaves: Diversidade; Racismo; Educação.

1 – A Lei 10.639/2003 e sua aplicabilidade no âmbito escolar

É dever de todo cidadão lutar contra todas as formas de racismo, discriminação e preconceito. Infelizmente essas práticas marginalizadoras ainda encontram espaço no seio da sociedade.
O ambiente escolar é bastante fértil para se trabalhar e lutar pela eliminação dessas manifestações, sendo dever de todo e qualquer educador, incluir na sua prática pedagógica atividades de combate à agressão ao ser humano por pertencer a este ou aquele grupo social, buscando a redução da discriminação e do preconceito.
Porém, apesar da existência da obrigatoriedade de inclusão no currículo oficial da rede de Ensino da “História e Cultura Afro-Brasileira” [1][4], muitos educadores ainda resistem em não aplicar no cotidiano escolar técnicas de intervenção para suprimir o preconceito e a discriminação contra o negro. Alguns alegam desconhecimento da Lei, no entanto acreditamos que o que ocorre, muitas vezes, é a falta de compromisso social, a acomodação, e mesmo, o despreparo para se trabalhar com essa temática. Sob esse aspecto kabengele Munanga (2008) acrescenta que:
No entanto, alguns professores, por  falta de preparo ou por preconceitos neles introjetados, não sabem lançar mãos das situações flagrantes de discriminação no espaço escolar e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza que ela traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional.                       
          
Assim, pensando num método capaz de reverter à maneira de pensar e agir de todos os envolvidos no processo educacional, como alternativa de combate e prevenção do preconceito, foi que procuramos implantar um projeto de intervenção apropriado para a construção de uma convivência respeitosa entre os diversos grupos culturais, a aceitação da diversidade e o resgate da auto-estima e autonomia.  

2 – A riqueza da contribuição da cultura afro-brasileira na comunidade Diamantinense

            Para a elaboração do Projeto de Intervenção, inicialmente fizemos uma reunião com os gestores e demais docentes, visando o planejamento e proposição de atividades a serem desenvolvidas junto à comunidade escolar, ficando determinado que todos os professores trabalhariam com a temática nas respectivas áreas de conhecimento.  
            Após a definição das tarefas mais apropriadas para a execução do projeto, verificou-se a necessidade da leitura da Lei 10.639/2003 para os alunos, visando seu entendimento e envolvimento no movimento que passaria a vigorar no espaço escolar durante o segundo semestre.
            Para o êxito do nosso projeto implementamos medidas no sentido de levar ao conhecimento do aluno a riqueza da cultura afro-brasileira na própria comunidade de Diamantino. Desta forma, foram efetivadas as visitas ao sítio Caramba, ao Cajuru, e ao Asilo São Roque, que conforme pesquisado nos arquivos da Casa Memorial dos Viajantes do município, consta que a população diamantinense entre o período de 1750-1860, era na sua maioria negra trazidos da África, das nações e etnias do: ( Congo, Moçambique, Angola, Guiné, Monjolo, Benguela, Nagô, Mina, Haussá, e Cambinda, passaram a residir nestas áreas  ribeirinhas, que para fugir da opressão do poder escravocrata criaram os Quilombos nestas localidades.Passamos então a realizar uma pesquisa sobre os penteados afros, para assim valorizar a beleza , a arte , moda e cultura finalizando com oficinas da CUFA( Central Única das Favelas) de cabelos, de bijuterias, teatro com a apresentação da peça Cabelo Pixaim, palestra proferida pela autora do Livro Cabelo Ruim?A história de três meninas aprendendo se aceitar, jornalista Neuza Baptista Pinto e apresentação  de Desfile de moda africana. Nesse contexto, Gomes (2006) enfatiza que o corpo humano como motivo de arte é uma realidade inerente a todas as culturas e civilizações. Diz ainda que pintura corporal, maquiagem, decorações, vestimentas típicas, estilos e penteados ilustram essa tendência universal do corpo como objeto de beleza e estética.
Desta forma, percebe-se que é muito importante que a escola busque valorizar o cabelo crespo, evidenciando nos penteados de origem étnica africana a expressão estética e o fortalecimento da identidade negra. Assim estará contribuindo para desfazer a representação negativa da população negra no imaginário da nossa sociedade.
Dando seqüência, foram confeccionadas peças artesanais em barro (panelas, caçarolas e fogão de lenha), madeira (monjolo, viola de cocho, colher de pau, gamelas) e apá (utensílio para selecionar grãos) de folha de buriti. Realizamos  pintura de telhas e do muro da escola, com temas sobre a diversidade cultural e tela para demonstração de uma cozinha Quilombola. Recebemos ainda a visita do Professor Carlão da Academia Sandokan que destacou a prática do judô, explicando aos alunos sobre a disciplina, a organização desse esporte para o desenvolvimento da cidadania e o seu destaque no quadro de medalhas estadual, nacional e internacional para o estado de Mato Grosso. E o Professor Paladar de Capoeira que apresentou aos alunos os instrumentos, as músicas e os movimentos desta dança muito praticada pelos negros escravos como meio de defesa e preservação de sua cultura. Entre outras atividades, temos também: a criação do blog da escola (escolalucindadtno. blgspot.com), apresentação de peças teatrais, poesias, paródias e danças sobre o tema Consciência Negra e intercâmbio cultural com a presença dos índios Pareci da Aldeia Formoso de Tangará da Serra, que apresentaram cantos e danças, finalizando com um almoço típico da cozinha quilombola servindo a todos uma suculenta feijoada.
Destacamos ainda que esse projeto de intervenção idealizado pelas professoras de letras Jacilda Siqueira Pinho e a professora de História Ivolina Razza e executado por todos os docentes, discentes, funcionários, coordenação, direção e a comunidade escolar da Escola Estadual “Ir. Lucinda Facchini” participou do Evento Feira do Conhecimento realizada todos os anos pela Secretaria Municipal de Educação de Diamantino-MT em comemoração ao aniversário da cidade, com o tema Consciência Negra.
   
Considerações finais

            Durante a execução do Projeto Valorizando e Respeitando a Diversidade, foi possível perceber que tanto os educadores quanto os educandos apresentam atitudes preconceituosas e racistas, com o que a seu ver é diferente do estereótipo estabelecido como padrão na sociedade, onde a cultura do branqueamento permanece presente em nossas vivências e relações.
            Diante disso é oportuno destacar as palavras de Silva (2008, P. 17), citadas por Santos (2010), a importância de inserir no currículo escolar o estudo e valorização das diversas culturas, "Conhecer para entender, respeitar e integrar aceitando as contribuições das diversas culturas, oriundas das várias matrizes culturais presentes na sociedade brasileira". Portanto, o desenvolvimento deste projeto nos dá certeza de que há um longo caminho a percorrer, muitos erros a corrigir e muitos entraves a vencer para alcançar os objetivos desejados e escrever uma nova história dos afros descendentes, onde a diversidade esteja presente no currículo escolar, sob este aspecto concordamos com o que diz Menezes (2009) “Aquele que reconhece o valor de alguém pelas batalhas que enfrenta e não pelo que aparenta, jamais será preconceituoso”. Sendo assim, construiremos uma sociedade onde haja respeito aos direitos humanos, reconhecendo no outro um parceiro de uma vivência harmoniosa e pacífica.

Referências Bibliográficas


Parâmetros Curriculares Nacional: Terceiro e quarto ciclo: apresentação dos temas transversais/Secretaria de educação fundamental. Brasília MEC/SEF, 1998.
Gomes, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: Diversidade e Cultura. -Brasília: MEC, 2008,48p.
Menezes, Luis Carlos de. Revista Nova Escola, ed.nº228, dez.2009, p.94.
Santos, Tereza. Raça, Currículo e Práxis Pedagógica, p.19,2010.
 Matta, Roberto da. Relativizando: Uma Introdução a Antropologia Social. RJ: Rocco, 1987.
MUNANGA, Kabengele. Superando o racismo na escola. 2ª edição revisada, Brasília, 2008.



[1][1] Graduada em Pedagogia pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e professora da Educação Básica.
[1][2] Graduada em Pedagogia e Letras Anglo-Portuguesas pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jandaia do Sul - PR e especialista em Psicopedagogia pela FID-MT (Faculdades Integradas de Diamantino) e professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual “Irmã Lucinda Facchini”, Diamantino-MT.
[1][3] Graduada em História pela UNIC-MT (Universidade de Cuiabá) e professora de História na Escola Estadual“ Irmã Lucinda Facchini”,Diamantino-MT.
[1][4] Lei nº. 10.639/2003, de 09/01/2003.














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