quarta-feira, 4 de julho de 2012

Professora da Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini publica ensaio científico na Editora da UFMT sobre o curso PROCESSO FORMATIVO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESCOLAS SUSTENTÁVEIS E COM-VIDA

O CARACOL DE ESPERANÇA NO PROCESSO FORMATIVO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESCOLAS SUSTENTÁVEIS E COM-VIDA
 Jacilda Siqueira1
1 Tutora do Processo Formativo em Educação Ambiental: Escolas Sustentáveis e Com-Vida


A grande verdade é que só vence aquele que continua, aquele que persiste, aquele que tem esperança e sabe passar a bandeira as novas gerações. Eu continuo cada vez mais com esperança. Essa é a minha vitória.
Dom Pedro Casaldáliga

Um agravante no processo de transformação da realidade degradante é crença em que "a escola é tida como a redentora da sociedade, como se todos os problemas da sociedade fosse ela capaz de solucioná-los" Guimarães (2007). Acreditamos que o processo escolar seja um importante espaço para transformação social, mas essa transformação precisa ocorrer em todas as esferas da sociedade. Sabemos que há potencialidades, mas reconhecemos também os limites e desafios a serem vencidos neste espaço concordamos com o pensamento de Freire (2000) que se a "educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."
Sabemos que muitas Instituições defendem que trabalham o tema Educação Ambiental, porém, quando averiguamos o Projeto Político Pedagógico este tema não está contemplado, logo, este instrumento que defendo ser o coração, o que motiva e o que define e conceitua a Escola como um todo, como Veiga (1995) muito bem o define como o que "organiza as funções educativas para que a escola atinja de forma efetiva a sua finalidade de que tenha interações políticas as questões de ensino-aprendizagem."
Nesse sentido o Curso de Aperfeiçoamento Processo Formativo em Educação Ambiental, pioneiro no Brasil, contemplou um número elevado de profissionais da educação, com uma proposta pedagógica amparada em três momentos: Módulo 1- Eu, Engajamento, o qual nos leva a refletir sobre a história ambiental do individuo juntamente com a historia da família desse sujeito, momento este que se efetivou com os exercícios da pegada ecológica, Identidade e Bem- estar. Módulo 2: O Outro, nossa responsabilidade na escola, somos levados a
pensar e refletir sobre a nossa responsabilidade em relação ao espaço escolar por meio do mapeamento ambiental da instituição, momento efetivado com as atividades: a escola como lugar no mundo; o projeto político pedagógico e a Com-vida. Módulo 3: Mundo, comunidade e ecotécnicas para sustentabilidade, neste módulo refletimos como é o ambiente escolar em que estamos inseridos, fazendo a leitura da planta baixa da escola e já visualizando um redesenho desta escola na visão da redução da pegada ecológica da Instituição amparados no cardápio das ecotécnicas.
Isso nos leva a reflexão de nosso papel frente ao meio a qual estamos inseridos. A partir do momento em que cada ser humano assumir que suas atitudes são incoerentes frente ao cuidado e a necessária sustentabilidade do planeta e consequentemente da vida a transformação ocorrerá. Na maioria das vezes, apontamos muitas as ações predatórias e poluidoras de terceiros, esquecendo de promover uma reflexão sobre nossa atuação enquanto cidadãos. Parafraseando Séneca, a educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.
Assim, acredito que atitudes pequenas colaboram com a sustentabilidade, dentre elas: desligar a torneira quando não estiver usando-a, reutilizar a água, utilizar transportes públicos, entre outras, são ações pontuais, porém, importantes e necessárias e que fazem a diferença. Sobretudo, o engajamento coletivo em outras esferas se faz imprescindível, participando de formulações de políticas públicas que visam a construção e a implementação de projetos e programas capazes de fortalecer a educação ambiental como um todo, por exemplo. Sairmos do ponto neutro e do anonimato é uma atitude salutar.
Vejo que a sociedade é motivada pelo senso comum e pelo comodismo de que não adianta mudar posturas enraizadas para se ter um mundo melhor, tenhamos atitudes ecológicas como a do beija-flor que sozinho ele tenta apagar o fogo da floresta, façamos a nossa parte. Mas, tenhamos também uma ação coletiva crítica que busque a transformação social. Morin (1997) diz que "esses paradigmas são estruturas de pensamento que de modo inconsciente comandam nosso discurso".
O modelo dialógico no qual o Projeto Processo Formativo Escolas Sustentáveis Com-vida está respaldado num caminhar educativo que vai além dos muros escolares que estimula uma reflexão crítica da sociedade ecologicamente sustentável amparada no triple: espaço, currículo e gestão.
O espaço refere-se a qualidade de vida na escola em harmonia com um lugar devidamente sustentável, onde se prime pelo uso de equipamentos energéticos e tecnológicos, construção e manutenção de hortas e canteiros para o sustento das instituições.
A gestão deve incentivar e alicerçar o coletivo jovem e educadores na construção de espaços dialógicos com a finalidade de promover a implantação de ações para um presente e futuro sustentável, assim minimizar o desperdício de alimentos, conscientização em comprar menos produtos descartáveis e prejudiciais ao meio e demais atitudes que visam o bem-estar da comunidade local e global.
O currículo é dirigido pelo Projeto Político Pedagógico instrumento que segundo Alves (1992) são "ações pedagógicas que organizam as funções educativas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades".
Estas ações estão intimamente ligadas ao saber científico e o chão da escola, se efetiva também na formação continuada dos educadores tendo como parâmetro a educação ambiental.
Nesses cinco meses de tutoria pude perceber que para que se construa no dia-a-dia a noção de sustentabilidade é salutar que nós educadores tenhamos a disponibilidade e a vontade de mudar ações irresponsáveis frente ao meio ambiente. Disponibilidade no sentido de querer assumir a responsabilidade de cuidar do local onde vivemos e expandir de forma mais abrangente cuidando do planeta também. Lutarmos para dar um basta nessa cultura consumista e explorada que tende a seguir para as futuras gerações.
É importante que todo esse processo formativo não estagne, é preciso ampliar o leque e buscar a reoferta deste curso, que deverá primar em atender a um percentual maior de escolas, não tão somente o ensino médio, que seja estendido ao ensino fundamental. O ideal que fosse pensado para atender a todos os níveis de ensino, parafraseando é importante deixar um planeta melhor para nossos filhos, mas mais interessante e deixar filhos melhores para o planeta.
A proposta pedagógica do curso evidenciou como é possível trabalhar com áreas do conhecimento diferenciadas, tais como: literatura, arquitetura, matemática, entre outras. Isto foi sentido durante a realização das atividades, alertando que em sala de aula isso é possível. Um momento marcante foi o depoimento de uma cursista sobre a atividade de análise da pegada ecológica:
As notícias de que durante muitos anos somos abarrotados de informações que retratam catástrofes ambientais no mundo desencadeado por ações humanas e degradantes paulatinamente o meio em que vivemos, estão cada vez mais presente no cotidiano. Podemos vivenciar situações que expressam a falta da Ética do Cuidado preconizado por Boff (1999) que diz "a ética do cuidado, protege, potencializa, preserva, cura e previne" princípio fundamental para a sobrevivência em nossa casa, a Terra.
"O equilíbrio entre o uso daquilo que o meio nos ofereceu, nos oferece e o que ele poderá nos ofertar futuramente está longe de ser controlada. Isso por ter sido o ser racional que nesse planeta habita nada ponderável. E pensar que sou um deles. Mexeram comigo o questionário sobre as pegadas e as leituras. Fiquei indignada por me encontrar nada ponderável".
O exercício da Pegada Ecológica destaca atividades relativas ao consumo de energia, água e alimentos, levando o individuo a refletir sobre o nível de sua caminhada, marcas e pegadas no planeta, fazendo revelar sua contribuição no cuidado com a Casa (Terra) e na busca da melhoria da qualidade de vida.
Portanto, sejamos caracóis em nossa tarefa de educador num ambiente onde estimule o diálogo com nossos alunos sem deixar levar pela pressa do mundo moderno. Rubem Alves escreveu que a lentidão é uma virtude a ser aprendida num mundo em que a vida corre ao ritmo das máquinas.
E que sejamos "caracol de esperança e no sorriso cintila ao renascimento do amanhã" (BARROS, 2004).
Nesse sentido sejamos a possibilidade de sermos multiplicadores deste projeto junto às escolas e a esperança para a construção de um planeta sustentável.

Referência bibliográfica
ALVES. José Matias
 O Livro das Ignorãnças. São Paulo: Civilização Brasileira, 2000;
BARROS, Manoel.
 Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Unesp, 2000.
FREIRE, P.
 Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, I.P.A.(Org.) Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995; Processo formador em educação ambiental a distância: módulo 4 - Projeto ambiental escolar comunitário. Brasília, 2009.
VEIGA, I.P.A.
BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.
. Organização, gestão e projecto educativo das escolas. Porto Edições ASA, 1992;

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