Dezessete estudantes do Mato Grosso estão classificados para as semifinais 3ª Edição da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa 'Escrevendo o Futuro’, que acontece entre os dias 12 e 14 de novembro, em São Paulo.
Uma das alunas é Bárbara Leticia Oliveira de Arruda, que está no 7º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Lucinda Fachini. Com o título ‘Não terminei ainda, vou descansar, volto já para continuar... ’ o texto de Bárbara foi classificado entre as 500 semifinalistas na categoria Memórias Literárias.
De acordo com a professora, Márcia Raimundo, a participação nas Olimpíadas requer muito estudo e disciplina. “São 16 oficinas que fazemos com os alunos até a produção da redação final. Então, foi necessário por várias vezes, levar o trabalho para casa, reunir nos finais de semana... Mas valeu a pena”, contou Márcia.
“Quando a professora apresentou a proposta das Olimpíadas não pensei duas vezes. Na hora quis participar, mas não esperava chegar tão longe”, contou Bárbara, que desde abril trabalhou neste projeto para as Olimpíadas.
Agora aluna e professora estão a caminho de São Paulo, onde participarão da próxima etapa das Olimpíadas. Nas semifinais serão selecionados 152 trabalhos, que irão para Brasília participar da Cerimônia de Premiação, onde serão apresentados os 20 textos vencedores nacionais da competição.
Fonte: Redação / O Divisor
Foto: O Divisor
Redação da Estudante
NÃO TERMINEI AINDA, VOU DESCANSAR, VOLTO JÁ PARA CONTINUAR...
As memórias que trago do lugar onde vivo me emocionam muito, pois aqui viveram meus avós, pais e toda minha família.
A cidade surgiu às margens do Ribeirão do Ouro, o povoado foi crescendo, se espalhando, formando a primeira Vila. Tenho muitas recordações, Diamantino, terra de ouro e diamantes, minha cidade querida, de belezas e encantos, simples, pequena e antiga, de lendas e crenças. A única rua que existia era de chão batido e os caminhos que levavam a ela eram os “trieiros”. Os meios de transporte utilizados, carroças e charretes.
Naquela época, não existiam os bairros que com o crescimento populacional mudaram muito a aparência da cidade e a vida de maneira geral. Muitos problemas começaram a aparecer: poluição dos rios, desmatamento, queimadas, claro, “o progresso”.
Meus pais, muito rígidos, cobravam respeito pelos mais velhos, pedir bênção. Quando desobedecíamos recebíamos punição severa, ajoelhar sobre grãos de milho e feijão. Com isso aprendi grandes lições e exemplos que trago comigo, ensinando para meus filhos e netos.
Ah! O namoro, antigamente era na sala, na presença dos pais, que nos vigiavam. Pegar na mão, beijar, só depois de casados.
A maneira de vestir, muito diferente de hoje, as mulheres vestidos ou saias com blusas de mangas, todos abaixo do joelho, calça comprida e bermuda, nem pensar, esse traje era exclusivo para homens.
Aqui, já teve senzala, com milhares de escravos, os quais construíram com sua força, os casarões, a igreja matriz, (que permanece com a mesma arquitetura), e os calçamentos de pedras ainda presentes em algumas ruas, também tem, uma árvore centenária, conhecida como merindiba, um cartão postal.
O Rio Diamantino, que atravessa a cidade outrora de águas abundantes e transparentes (hoje poluído e devastado), faz parte da minha vida e da vida de muitas crianças, enquanto as mulheres lavavam roupas, louças e pescavam, as crianças banhavam e nadavam. Tempo bom, guardado na memória. Agora, só história...
Meu pai era garimpeiro e toda manhã saía com sua camiseta manga longa, com a calça no meio da canela, sua botina gasta, com seu inseparável chapéu de palha e bateia (objeto para garimpar). Nesse tempo, ouro e diamantes não eram valorizados como hoje.
Nossa humilde casa feita de taipa (material argiloso) e bambu, construída por toda família, sem planejamento, bem pequena e apertada para o número de pessoas que nela morava. Na sala ficava a cadeira de palha de meu pai, um pano grosso e desfiado para nós sentarmos, uma vitrola muito antiga, rádio, uma mesa rústica, em cima desta, apenas a poeira da estrada que passava em frente. No meu quarto um colchão onde eu, por ser mais velha, dormia. Minhas irmãs dormiam na rede. No quarto dos meus pais apenas um colchão e um cofre muito pesado, parecido com um caixote, herança de meu bisavô, relíquia da nossa família.
A cozinha simples, fogão a lenha, cinco tocos que serviam de bancos, pouca coisa tinha, mas vivíamos felizes.
O quintal grande, com muitas variedades de frutas (mangueiras, cajueiros, siputás, buritis...) e até uma árvore de pau-brasil, um dos únicos pés que resistiu. Nele brincávamos de balanço, pega-pega, passa-anel e comíamos frutas fresquinhas e saborosas, minha mãe fazia sucos e doces deliciosos para toda criançada.
Nas festas de santo, muitas danças regionais para mostrar: cururu, siriri, rasqueado. Eu fazia parte do grupo de dança. Não podia faltar a viola de cocho, mocho, e o ganzá.
Hum! As comidas... Ainda sinto o gostinho, chega a dar água na boca, preparadas pelos devotos utilizando pilões, gamelas e panelas de barro, Maria Izabel, arroz com pequi, farofa de banana, peixe frito, são pratos típicos daqui.
As coisas mudaram muito a partir da década de 70, com a escassez do ouro e diamante, um novo ciclo se inicia: agricultura e pecuária trazendo pessoas de todas as regiões, em busca de melhores oportunidades que contribuíram para o crescimento do nosso estado, hoje, o maior produtor de grãos do Brasil.
Enfim, dessa terra abençoada falta muito a lhes contar, estou viva, não terminei ainda, vou descansar, volto já... Mas convido você, venha nos visitar e esta história... Continuar...